Fonte (Automazione Industriale n.268 – Dicembre 2018) – Tradução e Adaptação: Eduardo Grachten

Empresas italianas estão usufruindo das vantagens decorrentes da integração de conhecimentos que antigamente eram distantes e hoje são combinados pela mecatrônica

Autor – Massimiliano Cassinelli

Sobre o significado do termo mecatrônica já se discute há algum tempo, até porque a origem dessa disciplina remonta a 1971, quando o termo foi cunhado por Tetsuro Mori. Por outro lado, a real integração entre especializações tão diferentes é bem mais recente, pois as empresas demoraram a compreender a necessidade da cooperação entre os diversos especialistas.

Giuseppe Zampolli, gerente de produto e automação na Panasonic Electric Works da Itália

Giuseppe Zampolli, gerente de produto e automação na Panasonic Electric Works da Itália,

está convencido de que atualmente já estão claras para as empresas italianas as vantagens competitivas proporcionadas pela mecatrônica. “Os dados obtidos sobre a associação dos diversos departamentos demonstram: Os usuários finais nos processos produtivos já iniciaram ou estão por iniciar investimentos para uma melhor utilização das vantagens proporcionadas pela mecatrônica com o objetivo de otimizar a produtividade, a personalização do produto e a oferta de novos serviços aos clientes”.

Esta opinião é compartilhada também por Massimo Addiamando, técnico da Industry Automation da Telmotor, especializado em mecatrônica que ressalta, contudo, que as empresas italianas se diferenciam “de acordo com o preparo, a disponibilidade e predisposição à mudança dos colaboradores”.

Existe também o receio da ameaça ao mercado de trabalho pela adoção das novas tecnologias, corroborado por estudo recente divulgado pela PWC (Price Waterhouse Coopers) realizado sobre 200 mil postos de trabalho em 29 países. O documento estima que a nova fase de automatização, prevista para os primeiros anos da próxima década, afetará 3% dos postos de trabalho. Contudo, os efeitos mais devastadores serão percebidos com aquelas que estão definidas como a segunda e terceira ondas de automatização que, se não forem realizadas de forma planejada, consumirão até 30% dos postos de trabalho até 2030.

Não podemos, contudo, negar o fato, como ressalta Riccardo Guaglio, líder da equipe comercial de engenharia na Rockwell Automation, que nos últimos anos é crescente a demanda do mercado pelo aumento da produtividade, sem com isso aumentar os custos de produção, que devem ser mantidos constantes ou mesmo diminuírem. “O desafio dos fabricantes é o de encontrar novas soluções e de ampliar os limites clássicos do planejamento, sem, contudo, correr-se o risco de investir em maquinário que não resulte em benefícios. Melhorar o desempenho geral implica, por vezes, em investimentos pesados que nem sempre se mostram eficientes para corrigir os pontos fracos do processo produtivo. Os fabricantes estão percebendo que as técnicas da mecatrônica podem reduzir os riscos projetados e, assim, facilitar a introdução de inovações que farão a diferença no mercado. “Estamos no início de um processo complexo que demandará de tempo para ser completamente implantado.”

Esse é um processo lento que, por outro lado, parece que está se desenhando faz tempo, sobretudo considerando o fato de que a indústria italiana já vem, mesmo que moderadamente, se adequando a um novo modo de planejar o maquinário e o processo produtivo. Esse é um caminho que está sendo antecipado pelo advento da indústria 4.0, uma nova modalidade produtiva que parece ter reforçado a importância da tecnologia de informação na indústria.

Sabina Cristini, diretora na General Motion Control da Siemens na Itália

Essa mudança de visão é influenciada por diversos fatores, como explica Sabina Cristini,

diretora na General Motion Control da Siemens na Itália. “A adoção de uma abordagem mecatrônica por parte das empresas de hoje é favorecida por tecnologias de ponta e de grande aplicabilidade. As soluções flexíveis de software com desempenho e integração crescentes são uma realidade ao alcance dos projetistas para a simulação de ampliações do processo produtivo. Os clientes conseguem estimar com precisão o investimento para implantar a automatização graças às ferramentas de simulação que permitem digitalizar e projetar a ampliação do chão de fábrica.

A MUDANÇA 4.0

O paradigma da Industria 4.0, assim como os incentivos fiscais do Plano Indústria 4.0, representam uma mudança disruptiva. Nicola Peli, gerente de produto na Industry Business da Schneider Electric afirma que a mecatrônica não é uma novidade. “Faz anos que promovemos as práticas mecatrônicas. A plataforma e arquitetura EcoStruxure que propomos hoje é uma resposta a evolução da Industria 4.0 em todo o mundo. Essa tecnologia oferece aos fabricantes a oportunidade de desenvolver soluções mecatrônicas avançadas, integrando três níveis: produtos conectados, automação e controle e análise de dados. Dentro do paradigma da Indústria 4.0, a mecatrônica encontra um campo para desenvolver todo o seu potencial: hoje é possível implementar soluções mecânicas, eletrônicas e de software que multiplicam as aplicações do maquinário”.

Riccardo Guaglio, líder da equipe comercial de engenharia na Rockwell Automation

Um conceito reiterado por Guaglio da Rockwell Automation: “Uma das bases da Quarta Revolução Industrial é a necessidade de alcançar uma produção sustentável que atenda a evolução de um mercado global. A estrada a ser percorrida exige o emprego de sistemas inteligentes e conectados entre si. É necessário coletar e analisar as informações para identificar as áreas onde o benefício da intervenção será maximizado para melhorar a prestação de serviços e a redução de custos. As máquinas desenvolvidas com as técnicas mecatrônicas fornecem informações em tempo real utilizadas para aumentar a produtividade continuamente. O projeto segundo as técnicas da mecatrônica antecipa boa parte dos preceitos cobertos pela Indústria 4.0 e faz parte do núcleo de conceitos dessa revolução industrial, colaborando e amplificando os efeitos dessa mudança”.

Com relação a Revolução Industrial, segundo Addimando da Telmotor, “após uma fase inicial um tanto confusa devida à aplicação de desonerações fiscais, os construtores de máquinas mais atentos estão constantemente propondo novas soluções, mesmo aos clientes menos informados sobre os potenciais benefícios da Indústria 4.0”.

Conforme informaram os entrevistados, levar a mecatrônica para dentro de uma indústria demanda uma série de mudanças radicais.

MAIS CAPACITAÇÃO NA EMPRESA

Reitera Cristi da Siemens: “As exigências dos clientes desafiam as empresas a buscar ampliar a flexibilidade, a conectividade, os serviços e a confiabilidade. Alcançar essas melhorias, contudo, não significa apenas introduzir novas tecnologias ao processo produtivo. Internamente, as empresas precisam investir também na capacitação dos colaboradores em habilidades multidisciplinares segundo os conceitos 4.0. Já que a modernização das máquinas evolui rapidamente e as atualizações tecnológicas são constantes. Além da introdução de novos recursos, a capacitação contínua é uma necessidade”.

Não basta, contudo, uma mudança limitada aos colaboradores internos, devemos observar com atenção redobrada os parceiros de negócios. “Pode parecer óbvio”, lembra Zampolli da Panasonic Electric Works Itália, “mas as empresas deveriam buscar profissionais e parceiros que tenham uma visão ampliada da mecatrônica, não limitada à mecânica ou a informática. A visão mecatrônica ideal deve contemplar uma preocupação equilibrada entre mecânica, eletrônica e teoria da informação que garanta o sucesso da solução”.

A capacidade de dosar o correto equilíbrio entre as diversas disciplinas é reforçada também por Guaglio da Rockwell Automation. “A abordagem mecatrônica prevê que o planejamento mecânico, elétrico e informático aconteça simultaneamente e com sinergia. Os softwares de projeto disponíveis atualmente no mercado possibilitam unir e inter-relacionar áreas anteriormente separadas, até a concretização do protótipo. A troca transparente de informações entre as ferramentas envolvidas é um aspecto, outro aspecto é o intercâmbio de informações entre as equipes envolvidas no projeto. A colaboração entre as diversas técnicas surge naturalmente. Avaliar o impacto de uma decisão de forma colaborativa apresenta vantagens evidentes. Investir no compartilhamento do R&D que governa as fases de projeto é seguramente o primeiro passo que uma empresa deve dar para melhor usufruir as vantagens de mecatrônica”.

ONDE ENCONTRAR OS ESPECIALISTAS?

O depoimento de Guaglio aponta para um dos temas abordados pela mecatrônica: como encontrar no mercado os profissionais com perfil adequado? Muitas empresas lamentam a dificuldade na busca de competências.  Uma dificuldade que, de acordo com Addimando da Telmotor, é superável. “No mercado se pode encontrar projetistas sênior que desenvolveram habilidades para a inovação, assim como jovens recém-formados nos cursos ligados à programação gráfica e de aplicativos que podem colaborar no desenvolvimento das novas tecnologias ligadas à Indústria 4.0”. A busca não é fácil segundo Zampolli da Panasonic Electric Works Itália. “Atualmente verificamos que existe uma necessidade por parte das empresas de recursos humanos especializados no tema da mecatrônica”.

Esta carência é confirmada também por Alessandro Redavide, gerente de marketing e comunicação da Yaskawa Itália, que sugere uma alternativa possível para este problema. “Atualmente se verifica uma carência de profissionalismo no mercado. É, portanto, necessário promover o contato direto das empresas com os estudantes por meio de cursos estruturados e visitas em fábricas, de forma a enriquecer a formação teórica com a experiência amadurecida no campo da responsabilidade empresarial. Adicionalmente, é fundamental que os profissionais continuem a formação na empresa, de forma a adquirirem as capacidades exigidas pelo mercado”.

COMO NASCEM OS TÉCNICOS DO FUTURO

A carência de profissionais especializados representa uma dificuldade para as empresas, mas também é uma oportunidade para os jovens que desejam investir em seu futuro. De fato, como confirma Zampolli da Panasonic Electric Works Itália, “o crescimento de inscrições na escola ITS, na especialidade mecatrônica, mostra decididamente um sinal positivo de resposta às necessidades das indústrias do setor. Todavia, permanece importante também o complemento da formação em nível universitário”.

Além do diploma, para ter sucesso, contribui muito, a vontade e a predisposição ao desafio constante, sobretudo em um setor particularmente dinâmico como é o setor das novas tecnologias de produção. A receita de Addimando da Telmotor é clara, ainda que não facilmente alcançável. “É necessário obter um diploma ou certificado em mecânica dedicado às novas tecnologias contemplando conhecimentos em programação de CLPs e de controle de movimentação. Mas também é necessária uma boa dose de vontade de experimentar novidades”.

Alessandro Redavide, gerente de marketing e comunicação da Yaskawa Itália

Uma oportunidade de experimentar foi apresentada por Massimo Porta, gerente geral da Omron Electronics, durante a inauguração do Laboratório de Inovação da Omron de Milão, um espaço no qual é possível testar as tecnologias mais futurística de automação. “Realizamos aquilo que era um sonho: um laboratório de inovação que satisfaz as exigências dos clientes”. A estrutura foi idealizada com o objetivo, declarado, de incrementar o suporte e a assistência local que a Omron fornece aos seus clientes na Itália.

De resto, como explicou Porta, no mundo manufatureiro se está experimentando uma crescente utilização da tecnologia de automação. “O Plano Indústria 4.0 levou as empresas a observar com maior atenção a utilização das informações fornecidas para a implantação. Constatamos com satisfação que boa parte dos empreendedores italianos buscam vantagens competitivas pelo emprego das novas tecnologias, e não apenas benefícios fiscais. A uma exigência como essa, uma empresa como a Omron não poderia responder simplesmente com um catálogo de produtos e serviços, precisávamos de um ambiente no qual pudéssemos demonstrar nossa capacidade. Nossa empresa não se preocupa apenas com o imediato, mas deseja realizar projetos de sucesso nas próximas décadas e atrair talentos das universidades. Tudo isso só pode acontecer se colocarmos a disposição dos técnicos e clientes um ambiente com a tecnologia pronta para o futuro”.

Universidade e empresas devem, portanto, incrementar a colaboração, ambas apresentando suas peculiaridades, como confirma Redavide da Yaskawa. “O caminho da formação a ser seguido compreende os cursos verticais sobre as atividades que o técnico deverá desempenhar. Para quem opera com robôs, em particular, a Yaskawa propõe cursos específicos, centrados sobre temas como programação, tecnologia de comando e controle, manutenção e de softwares dedicados a robótica. Se trata de cursos ministrados na sede de Torino ou dentro das empresas clientes para melhor atender às suas necessidades. Além desses, fornecemos também treinamentos personalizados”.

A MECATRÔNICA SE TORNA MAIS FÁCIL

A formação e seleção de profissionais não são atividades que acontecem rapidamente. Assim, enquanto universidades e empresas buscam se organizar para contornar a carência de pessoal técnico especializado, o mundo manufatureiro não pode esperar. Até porque, em outros países, estes investimentos foram já iniciados e o mercado, como se diz, não espera.

Uma solução temporária para a carência de técnicos pode ser pela disponibilização

Nicola Peli, gerente de produto na Industry Business da Schneider Electric

de softwares cada dia mais fáceis e poderosos, sobretudo para simulações. Esses produtos contribuem decididamente para a aceleração das atividades dos especialistas, mas, ao mesmo tempo, podem também ser utilizados com sucesso por técnicos de diferentes competências, com resultados positivos em ambientes diversos. Como confirma Peli da Schneider Electric, “a abordagem mecatrônica no desenvolvimento de maquinário permite uma maior dedicação à fase de projeto. O tempo de engenharia empregado na instalação e posta em marcha deve ser sempre minimizado para garantir a competitividade no mercado. A disponibilidade de ferramentas de simulação mais simples e acessíveis significa poder utilizar também em máquinas automáticas que operam independentes ou até em componentes discretos: isso reduz o esforço de projeto, reduzindo os tempos de projeto de uma aplicação. Para a Schneider Electric, por outro lado, facilidade não significa “generalidade”: podemos oferecer diversas topologias de simulação, específicas para os utilizadores individuais”.

Sobre esse aspecto concorda também Cristini da Siemens. “Atualmente, as empresas desejam e podem acelerar a inovação por meio da utilização de ferramentas de simulação para dimensionar e estimar as diversas alternativas de projeto, desenvolvimento de protótipos e para explorar novas possibilidades e formatos de produtos. Quanto mais as plataformas garantirem ambientes de desenvolvimento multidisciplinares, e ao mesmo tempo integrados e bem conduzidos, maiores são os benefícios: o projeto baseado nas simulações dos fluxos de trabalho promove a colaboração, a exemplo dos analistas e projetistas. O tempo dedicado à preparação da simulação em si será drasticamente reduzido, assim como o custo de coleta e transferência de dados. Em suma, adotando sempre plataformas mais integradas de projeto, é possível transformar processos e ferramentas separadas em uma solução de projeto integrada, facilitando o processo de decisão dos times envolvidos”. Em particular, essas vantagens são evidentes no âmbito da robótica, como reforça Redavide da Yaskawa. “A simulação virtual de sistemas e processos baseados em robôs oferece vantagens cruciais não apenas no planejamento, mas também na implantação e funcionamento dos sistemas em si. Os erros dispendiosos podem agora ser eliminados de forma confiável. Os tempos de setup local dispendidos pelos operadores especializados sofrem sensíveis reduções de forma a otimizar os recursos de forma mais eficiente. São necessários softwares que satisfaçam tanto os parâmetros técnicos da robótica quanto as especificações do ambiente dos sistemas. Os programas de simulação permitem a configuração virtual e a inspeção dos processos de produção em um ambiente 3D dinâmico”.

OS HACKERS NÃO DEVEM SER TEMIDOS

Falado de tecnologia da informação não se pode, obviamente, negligenciar um dos aspectos mais delicados e inquietantes deste ambiente: a segurança digital. No futuro próximo, no ambiente industrial, será fundamental saber se defender dos ataques dos hackers que estão sempre buscando formas de extorquir valores dos menos precavidos. É conhecida a interceptação recente da polícia especializada em crimes financeiros, de uma mensagem de um mafioso de Bari que afirmava: “Busco os novos adeptos dentro das melhores universidades e você vai ainda pesquisar quatro desavisados pelo caminho que farão assim: bam bam! Eu busco aqueles que clicam e movimentam”. Essa linguagem codificada demonstra uma tendência que não pode ser subestimada. Addimando da Telmotor recorda que “mesmo que as temáticas de segurança não sejam diretamente ligadas a mecatrônica, a mecatrônica interliga a automação industrial, o controle de movimentação e a coleta de dados. A Indústria 4.0 transporta todos esses dados e ainda dados estatísticos de produção e dados de funcionamento e diagnóstico utilizando a internet. A conexão com a internet é o ponto fraco que deve ser vigiado. Também por isso a mecatrônica é menos vulnerável que digitalização”. Sobre esse aspecto também Peli da Schneider Electric acredita que seja necessária uma maior clareza. “A conectividade dos produtos, a acessibilidade remota, o compartilhamento de dados e o IoT introduzem o tema da segurança cibernética. Hoje existe muita confusão ser revisada. A Schneider Electric oferece um conjunto de soluções com a EcoStruxure para proteger os dados e as conexões por meio de hardwares e softwares de maneira que se possa maximizar as vantagens da interconectividade dos dispositivos (conectividade, diagnóstico remoto, monitoração, assistência e manutenção) mantendo a proteção dos dados. Se enfrentarmos a evolução tecnológica com a necessária consciência, a segurança não será um obstáculo: existem soluções tecnológicas adequadas, a exemplo de nossa oferta com EcoStruxure Machine Advisor, fornecemos aos fabricantes a possibilidade de rastrear e controlar o parque instalado de máquinas, monitorá-lo, intervir remotamente (Track, Monitor, Fix) unindo de forma eficiente o IoT e a segurança cibernética».

Devemos então encarar o tema da segurança com uma consciência crescente, mas também com a convicção de que as soluções existem, como reforça Zampolli da Panasonic Electric Works Itália. “Não definiria o tema da segurança com a expressão “obstáculo”. Se trata de um tema que evolui junto com a digitalização: o acesso as vantagens oferecidas pelas novas tecnologias apontam para considerações mais amplas, também com respeito a proteção da informática, antigamente menos necessária. Esse aumento da conscientização pode ser o início de novas oportunidades de negócios e processos dentro das empresas que trilharem o caminho da mecatrônica”.

Leia também

Fonte (Automazione Industriale n.268 – Dicembre 2018) – Tradução e Adaptação: Eduardo Grachten

Empresas italianas estão usufruindo das vantagens decorrentes da integração de conhecimentos que antigamente eram distantes e hoje são combinados pela mecatrônica

Autor – Massimiliano Cassinelli

Sobre o significado do termo mecatrônica já se discute há algum tempo, até porque a origem dessa disciplina remonta a 1971, quando o termo foi cunhado por Tetsuro Mori. Por outro lado, a real integração entre especializações tão diferentes é bem mais recente, pois as empresas demoraram a compreender a necessidade da cooperação entre os diversos especialistas.

Giuseppe Zampolli, gerente de produto e automação na Panasonic Electric Works da Itália

Giuseppe Zampolli, gerente de produto e automação na Panasonic Electric Works da Itália,

está convencido de que atualmente já estão claras para as empresas italianas as vantagens competitivas proporcionadas pela mecatrônica. “Os dados obtidos sobre a associação dos diversos departamentos demonstram: Os usuários finais nos processos produtivos já iniciaram ou estão por iniciar investimentos para uma melhor utilização das vantagens proporcionadas pela mecatrônica com o objetivo de otimizar a produtividade, a personalização do produto e a oferta de novos serviços aos clientes”.

Esta opinião é compartilhada também por Massimo Addiamando, técnico da Industry Automation da Telmotor, especializado em mecatrônica que ressalta, contudo, que as empresas italianas se diferenciam “de acordo com o preparo, a disponibilidade e predisposição à mudança dos colaboradores”.

Existe também o receio da ameaça ao mercado de trabalho pela adoção das novas tecnologias, corroborado por estudo recente divulgado pela PWC (Price Waterhouse Coopers) realizado sobre 200 mil postos de trabalho em 29 países. O documento estima que a nova fase de automatização, prevista para os primeiros anos da próxima década, afetará 3% dos postos de trabalho. Contudo, os efeitos mais devastadores serão percebidos com aquelas que estão definidas como a segunda e terceira ondas de automatização que, se não forem realizadas de forma planejada, consumirão até 30% dos postos de trabalho até 2030.

Não podemos, contudo, negar o fato, como ressalta Riccardo Guaglio, líder da equipe comercial de engenharia na Rockwell Automation, que nos últimos anos é crescente a demanda do mercado pelo aumento da produtividade, sem com isso aumentar os custos de produção, que devem ser mantidos constantes ou mesmo diminuírem. “O desafio dos fabricantes é o de encontrar novas soluções e de ampliar os limites clássicos do planejamento, sem, contudo, correr-se o risco de investir em maquinário que não resulte em benefícios. Melhorar o desempenho geral implica, por vezes, em investimentos pesados que nem sempre se mostram eficientes para corrigir os pontos fracos do processo produtivo. Os fabricantes estão percebendo que as técnicas da mecatrônica podem reduzir os riscos projetados e, assim, facilitar a introdução de inovações que farão a diferença no mercado. “Estamos no início de um processo complexo que demandará de tempo para ser completamente implantado.”

Esse é um processo lento que, por outro lado, parece que está se desenhando faz tempo, sobretudo considerando o fato de que a indústria italiana já vem, mesmo que moderadamente, se adequando a um novo modo de planejar o maquinário e o processo produtivo. Esse é um caminho que está sendo antecipado pelo advento da indústria 4.0, uma nova modalidade produtiva que parece ter reforçado a importância da tecnologia de informação na indústria.

Sabina Cristini, diretora na General Motion Control da Siemens na Itália

Essa mudança de visão é influenciada por diversos fatores, como explica Sabina Cristini,

diretora na General Motion Control da Siemens na Itália. “A adoção de uma abordagem mecatrônica por parte das empresas de hoje é favorecida por tecnologias de ponta e de grande aplicabilidade. As soluções flexíveis de software com desempenho e integração crescentes são uma realidade ao alcance dos projetistas para a simulação de ampliações do processo produtivo. Os clientes conseguem estimar com precisão o investimento para implantar a automatização graças às ferramentas de simulação que permitem digitalizar e projetar a ampliação do chão de fábrica.

A MUDANÇA 4.0

O paradigma da Industria 4.0, assim como os incentivos fiscais do Plano Indústria 4.0, representam uma mudança disruptiva. Nicola Peli, gerente de produto na Industry Business da Schneider Electric afirma que a mecatrônica não é uma novidade. “Faz anos que promovemos as práticas mecatrônicas. A plataforma e arquitetura EcoStruxure que propomos hoje é uma resposta a evolução da Industria 4.0 em todo o mundo. Essa tecnologia oferece aos fabricantes a oportunidade de desenvolver soluções mecatrônicas avançadas, integrando três níveis: produtos conectados, automação e controle e análise de dados. Dentro do paradigma da Indústria 4.0, a mecatrônica encontra um campo para desenvolver todo o seu potencial: hoje é possível implementar soluções mecânicas, eletrônicas e de software que multiplicam as aplicações do maquinário”.

Riccardo Guaglio, líder da equipe comercial de engenharia na Rockwell Automation

Um conceito reiterado por Guaglio da Rockwell Automation: “Uma das bases da Quarta Revolução Industrial é a necessidade de alcançar uma produção sustentável que atenda a evolução de um mercado global. A estrada a ser percorrida exige o emprego de sistemas inteligentes e conectados entre si. É necessário coletar e analisar as informações para identificar as áreas onde o benefício da intervenção será maximizado para melhorar a prestação de serviços e a redução de custos. As máquinas desenvolvidas com as técnicas mecatrônicas fornecem informações em tempo real utilizadas para aumentar a produtividade continuamente. O projeto segundo as técnicas da mecatrônica antecipa boa parte dos preceitos cobertos pela Indústria 4.0 e faz parte do núcleo de conceitos dessa revolução industrial, colaborando e amplificando os efeitos dessa mudança”.

Com relação a Revolução Industrial, segundo Addimando da Telmotor, “após uma fase inicial um tanto confusa devida à aplicação de desonerações fiscais, os construtores de máquinas mais atentos estão constantemente propondo novas soluções, mesmo aos clientes menos informados sobre os potenciais benefícios da Indústria 4.0”.

Conforme informaram os entrevistados, levar a mecatrônica para dentro de uma indústria demanda uma série de mudanças radicais.

MAIS CAPACITAÇÃO NA EMPRESA

Reitera Cristi da Siemens: “As exigências dos clientes desafiam as empresas a buscar ampliar a flexibilidade, a conectividade, os serviços e a confiabilidade. Alcançar essas melhorias, contudo, não significa apenas introduzir novas tecnologias ao processo produtivo. Internamente, as empresas precisam investir também na capacitação dos colaboradores em habilidades multidisciplinares segundo os conceitos 4.0. Já que a modernização das máquinas evolui rapidamente e as atualizações tecnológicas são constantes. Além da introdução de novos recursos, a capacitação contínua é uma necessidade”.

Não basta, contudo, uma mudança limitada aos colaboradores internos, devemos observar com atenção redobrada os parceiros de negócios. “Pode parecer óbvio”, lembra Zampolli da Panasonic Electric Works Itália, “mas as empresas deveriam buscar profissionais e parceiros que tenham uma visão ampliada da mecatrônica, não limitada à mecânica ou a informática. A visão mecatrônica ideal deve contemplar uma preocupação equilibrada entre mecânica, eletrônica e teoria da informação que garanta o sucesso da solução”.

A capacidade de dosar o correto equilíbrio entre as diversas disciplinas é reforçada também por Guaglio da Rockwell Automation. “A abordagem mecatrônica prevê que o planejamento mecânico, elétrico e informático aconteça simultaneamente e com sinergia. Os softwares de projeto disponíveis atualmente no mercado possibilitam unir e inter-relacionar áreas anteriormente separadas, até a concretização do protótipo. A troca transparente de informações entre as ferramentas envolvidas é um aspecto, outro aspecto é o intercâmbio de informações entre as equipes envolvidas no projeto. A colaboração entre as diversas técnicas surge naturalmente. Avaliar o impacto de uma decisão de forma colaborativa apresenta vantagens evidentes. Investir no compartilhamento do R&D que governa as fases de projeto é seguramente o primeiro passo que uma empresa deve dar para melhor usufruir as vantagens de mecatrônica”.

ONDE ENCONTRAR OS ESPECIALISTAS?

O depoimento de Guaglio aponta para um dos temas abordados pela mecatrônica: como encontrar no mercado os profissionais com perfil adequado? Muitas empresas lamentam a dificuldade na busca de competências.  Uma dificuldade que, de acordo com Addimando da Telmotor, é superável. “No mercado se pode encontrar projetistas sênior que desenvolveram habilidades para a inovação, assim como jovens recém-formados nos cursos ligados à programação gráfica e de aplicativos que podem colaborar no desenvolvimento das novas tecnologias ligadas à Indústria 4.0”. A busca não é fácil segundo Zampolli da Panasonic Electric Works Itália. “Atualmente verificamos que existe uma necessidade por parte das empresas de recursos humanos especializados no tema da mecatrônica”.

Esta carência é confirmada também por Alessandro Redavide, gerente de marketing e comunicação da Yaskawa Itália, que sugere uma alternativa possível para este problema. “Atualmente se verifica uma carência de profissionalismo no mercado. É, portanto, necessário promover o contato direto das empresas com os estudantes por meio de cursos estruturados e visitas em fábricas, de forma a enriquecer a formação teórica com a experiência amadurecida no campo da responsabilidade empresarial. Adicionalmente, é fundamental que os profissionais continuem a formação na empresa, de forma a adquirirem as capacidades exigidas pelo mercado”.

COMO NASCEM OS TÉCNICOS DO FUTURO

A carência de profissionais especializados representa uma dificuldade para as empresas, mas também é uma oportunidade para os jovens que desejam investir em seu futuro. De fato, como confirma Zampolli da Panasonic Electric Works Itália, “o crescimento de inscrições na escola ITS, na especialidade mecatrônica, mostra decididamente um sinal positivo de resposta às necessidades das indústrias do setor. Todavia, permanece importante também o complemento da formação em nível universitário”.

Além do diploma, para ter sucesso, contribui muito, a vontade e a predisposição ao desafio constante, sobretudo em um setor particularmente dinâmico como é o setor das novas tecnologias de produção. A receita de Addimando da Telmotor é clara, ainda que não facilmente alcançável. “É necessário obter um diploma ou certificado em mecânica dedicado às novas tecnologias contemplando conhecimentos em programação de CLPs e de controle de movimentação. Mas também é necessária uma boa dose de vontade de experimentar novidades”.

Alessandro Redavide, gerente de marketing e comunicação da Yaskawa Itália

Uma oportunidade de experimentar foi apresentada por Massimo Porta, gerente geral da Omron Electronics, durante a inauguração do Laboratório de Inovação da Omron de Milão, um espaço no qual é possível testar as tecnologias mais futurística de automação. “Realizamos aquilo que era um sonho: um laboratório de inovação que satisfaz as exigências dos clientes”. A estrutura foi idealizada com o objetivo, declarado, de incrementar o suporte e a assistência local que a Omron fornece aos seus clientes na Itália.

De resto, como explicou Porta, no mundo manufatureiro se está experimentando uma crescente utilização da tecnologia de automação. “O Plano Indústria 4.0 levou as empresas a observar com maior atenção a utilização das informações fornecidas para a implantação. Constatamos com satisfação que boa parte dos empreendedores italianos buscam vantagens competitivas pelo emprego das novas tecnologias, e não apenas benefícios fiscais. A uma exigência como essa, uma empresa como a Omron não poderia responder simplesmente com um catálogo de produtos e serviços, precisávamos de um ambiente no qual pudéssemos demonstrar nossa capacidade. Nossa empresa não se preocupa apenas com o imediato, mas deseja realizar projetos de sucesso nas próximas décadas e atrair talentos das universidades. Tudo isso só pode acontecer se colocarmos a disposição dos técnicos e clientes um ambiente com a tecnologia pronta para o futuro”.

Universidade e empresas devem, portanto, incrementar a colaboração, ambas apresentando suas peculiaridades, como confirma Redavide da Yaskawa. “O caminho da formação a ser seguido compreende os cursos verticais sobre as atividades que o técnico deverá desempenhar. Para quem opera com robôs, em particular, a Yaskawa propõe cursos específicos, centrados sobre temas como programação, tecnologia de comando e controle, manutenção e de softwares dedicados a robótica. Se trata de cursos ministrados na sede de Torino ou dentro das empresas clientes para melhor atender às suas necessidades. Além desses, fornecemos também treinamentos personalizados”.

A MECATRÔNICA SE TORNA MAIS FÁCIL

A formação e seleção de profissionais não são atividades que acontecem rapidamente. Assim, enquanto universidades e empresas buscam se organizar para contornar a carência de pessoal técnico especializado, o mundo manufatureiro não pode esperar. Até porque, em outros países, estes investimentos foram já iniciados e o mercado, como se diz, não espera.

Uma solução temporária para a carência de técnicos pode ser pela disponibilização

Nicola Peli, gerente de produto na Industry Business da Schneider Electric

de softwares cada dia mais fáceis e poderosos, sobretudo para simulações. Esses produtos contribuem decididamente para a aceleração das atividades dos especialistas, mas, ao mesmo tempo, podem também ser utilizados com sucesso por técnicos de diferentes competências, com resultados positivos em ambientes diversos. Como confirma Peli da Schneider Electric, “a abordagem mecatrônica no desenvolvimento de maquinário permite uma maior dedicação à fase de projeto. O tempo de engenharia empregado na instalação e posta em marcha deve ser sempre minimizado para garantir a competitividade no mercado. A disponibilidade de ferramentas de simulação mais simples e acessíveis significa poder utilizar também em máquinas automáticas que operam independentes ou até em componentes discretos: isso reduz o esforço de projeto, reduzindo os tempos de projeto de uma aplicação. Para a Schneider Electric, por outro lado, facilidade não significa “generalidade”: podemos oferecer diversas topologias de simulação, específicas para os utilizadores individuais”.

Sobre esse aspecto concorda também Cristini da Siemens. “Atualmente, as empresas desejam e podem acelerar a inovação por meio da utilização de ferramentas de simulação para dimensionar e estimar as diversas alternativas de projeto, desenvolvimento de protótipos e para explorar novas possibilidades e formatos de produtos. Quanto mais as plataformas garantirem ambientes de desenvolvimento multidisciplinares, e ao mesmo tempo integrados e bem conduzidos, maiores são os benefícios: o projeto baseado nas simulações dos fluxos de trabalho promove a colaboração, a exemplo dos analistas e projetistas. O tempo dedicado à preparação da simulação em si será drasticamente reduzido, assim como o custo de coleta e transferência de dados. Em suma, adotando sempre plataformas mais integradas de projeto, é possível transformar processos e ferramentas separadas em uma solução de projeto integrada, facilitando o processo de decisão dos times envolvidos”. Em particular, essas vantagens são evidentes no âmbito da robótica, como reforça Redavide da Yaskawa. “A simulação virtual de sistemas e processos baseados em robôs oferece vantagens cruciais não apenas no planejamento, mas também na implantação e funcionamento dos sistemas em si. Os erros dispendiosos podem agora ser eliminados de forma confiável. Os tempos de setup local dispendidos pelos operadores especializados sofrem sensíveis reduções de forma a otimizar os recursos de forma mais eficiente. São necessários softwares que satisfaçam tanto os parâmetros técnicos da robótica quanto as especificações do ambiente dos sistemas. Os programas de simulação permitem a configuração virtual e a inspeção dos processos de produção em um ambiente 3D dinâmico”.

OS HACKERS NÃO DEVEM SER TEMIDOS

Falado de tecnologia da informação não se pode, obviamente, negligenciar um dos aspectos mais delicados e inquietantes deste ambiente: a segurança digital. No futuro próximo, no ambiente industrial, será fundamental saber se defender dos ataques dos hackers que estão sempre buscando formas de extorquir valores dos menos precavidos. É conhecida a interceptação recente da polícia especializada em crimes financeiros, de uma mensagem de um mafioso de Bari que afirmava: “Busco os novos adeptos dentro das melhores universidades e você vai ainda pesquisar quatro desavisados pelo caminho que farão assim: bam bam! Eu busco aqueles que clicam e movimentam”. Essa linguagem codificada demonstra uma tendência que não pode ser subestimada. Addimando da Telmotor recorda que “mesmo que as temáticas de segurança não sejam diretamente ligadas a mecatrônica, a mecatrônica interliga a automação industrial, o controle de movimentação e a coleta de dados. A Indústria 4.0 transporta todos esses dados e ainda dados estatísticos de produção e dados de funcionamento e diagnóstico utilizando a internet. A conexão com a internet é o ponto fraco que deve ser vigiado. Também por isso a mecatrônica é menos vulnerável que digitalização”. Sobre esse aspecto também Peli da Schneider Electric acredita que seja necessária uma maior clareza. “A conectividade dos produtos, a acessibilidade remota, o compartilhamento de dados e o IoT introduzem o tema da segurança cibernética. Hoje existe muita confusão ser revisada. A Schneider Electric oferece um conjunto de soluções com a EcoStruxure para proteger os dados e as conexões por meio de hardwares e softwares de maneira que se possa maximizar as vantagens da interconectividade dos dispositivos (conectividade, diagnóstico remoto, monitoração, assistência e manutenção) mantendo a proteção dos dados. Se enfrentarmos a evolução tecnológica com a necessária consciência, a segurança não será um obstáculo: existem soluções tecnológicas adequadas, a exemplo de nossa oferta com EcoStruxure Machine Advisor, fornecemos aos fabricantes a possibilidade de rastrear e controlar o parque instalado de máquinas, monitorá-lo, intervir remotamente (Track, Monitor, Fix) unindo de forma eficiente o IoT e a segurança cibernética».

Devemos então encarar o tema da segurança com uma consciência crescente, mas também com a convicção de que as soluções existem, como reforça Zampolli da Panasonic Electric Works Itália. “Não definiria o tema da segurança com a expressão “obstáculo”. Se trata de um tema que evolui junto com a digitalização: o acesso as vantagens oferecidas pelas novas tecnologias apontam para considerações mais amplas, também com respeito a proteção da informática, antigamente menos necessária. Esse aumento da conscientização pode ser o início de novas oportunidades de negócios e processos dentro das empresas que trilharem o caminho da mecatrônica”.

Leia também